quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

PLATÃO (427 – 347 a.C.)

Platão foi discípulo fiel de Sócrates, tinha 29 anos quando este bebeu cicuta, publicou o discurso de defesa de Sócrates. Suas obras mais importantes foram preservadas, fundou sua própria escola de filosofia em Atenas, num bosque que levava o nome do lendário herói grego Academos, devido a isso sua escola recebeu o nome de Academia. As expressões “acadêmicos” e “disciplinas acadêmicas” utilizadas até hoje tem origem dessa época. Em sua academia ensinava-se filosofia, matemática e ginástica. A oratória era muito valorizada por Platão, pois nas assembleias só os cidadãos (mulheres, crianças, escravos e estrangeiros não eram considerados cidadãos), que possuíam o dom da oratória obtinham ascendências sobre o auditório. Não é por acaso que suas obras são diálogos escritos, Platão valorizava o dialogo vivo.
Platão é marcado pelo racionalismo, podemos perceber grandes marcas deixadas por Sócrates em seu discípulo. Para Sócrates todos eram capazes de solucionar questões filosóficas (raciocínio filosófico).
Platão interessava-se pela relação entre aquilo que é eterno e imutável e aquilo que “flui”. O que “flui” nos remete aos filósofos pré-socráticos ou filósofos da natureza, Tales de Mileto, Anaxágoras, por exemplo, esses filósofos concentravam-se em saber do que eram compostas as coisas da natureza.
Para Platão a razão humana é algo eterno e imutável, Platão nos direciona a uma busca incansável pelo que é eternamente verdadeiro, eternamente belo e eternamente bom.
Mergulhando em sua teoria das ideias, podemos ver que Platão acreditava na existência de dois mundos distintos, o real (que é o das ideias) e o sensível (que é a realidade aparente, onde tudo é móvel, instável, efêmero, se desintegra com o tempo, onde nada é eterno). Tudo que podemos tocar e sentir na natureza “flui”, tudo que pertence ao “mundo dos sentidos” (matéria) se desintegra com o tempo.
 Para melhor visualização da linha de raciocínio de Platão tomaremos como exemplo o cavalo, todos tem algo em comum entre si, o cavalo enquanto matéria desintegra-se com o tempo, não é eterno e imutável, entretanto a ideia que temos de um cavalo, essa sim é eterna e imutável, todo cavalo possui características que nos fazem identificá-los como cavalo.
Ele chegou a conclusão que os fenômenos da natureza possuem formas, a essas formas ele deu o nome de ideias, antes de todos os cavalos, todos os porcos e todos os homens havia a imagem do cavalo, a imagem do porco e a imagem do homem, todas essas imagens pertencem ao mundo das ideias. O objeto do conhecimento é a ideia, essas ideias correspondem aos seres, mas essas ideias não são imagens que individualizam cada objeto em sua particularidade, essas imagens são universais (a ideia de cão aplica-se a todos os cães, independentemente de suas características particulares). A ideia é imutável, pode modificar a característica do cão, mas não a ideia que temos de como é um cão. É eterna, uma vez formada a ideia de algo, ela não desaparece enquanto houver um ser pensante.
Platão acreditava em uma realidade autônoma por trás do “mundo dos sentidos”, essa realidade ele chamou de mundo das ideias, lá estão as imagens padrão, as imagens primordiais que são eternas e imutáveis.
O que está materializado no mundo dos sentidos é mera imagem incompleta das ideias, é sombra das ideias que compõem o mundo real. O que isso quer dizer? Segundo o nosso filósofo o que vemos e sentimos no nosso mundo são reflexos de tudo que já existia anteriormente no mundo das ideias, portanto, o saber não é a criação do intelecto humano, o saber é lembrança do que existe no mundo das ideias, ele é o lembrar e relembrar. Quando vemos uma boneca, por exemplo, devemos ter em mente que antes do objeto boneca existir materialmente, existiu a ideia da boneca, sendo assim, a boneca materializada é a reprodução da ideia de boneca.
Aquilo que é mutável não pode ser conhecido verdadeiramente, as coisas tangíveis nos remetem a opiniões incertas, por isso é necessário utilizar a razão, pois ela é a mesma para todas as pessoas, ela é eterna e imutável, assim como a ideia, já o achar e o sentir variam de pessoas para pessoa. Não é por acaso que Platão interessou-se pela matemática, os dados numéricos não se alteram, são conhecimentos seguros, 2+2 sempre é 4. A visão daquilo que é bonito é relativo de pessoa para pessoa, mas a soma dos ângulos de um circulo sempre é 360°, utilizando a razão sempre chegamos a um conhecimento seguro.
Mas os pensamentos de Platão também nos remetem a algumas indagações. Teria o homem uma alma imortal? A alma e o corpo estão separados? Se a alma é imortal, porque o corpo se deteriora com o tempo? Se o corpo se deteriora com o tempo, então a alma seria independente? Quando a dualidade do homem, Platão afirma que o ser humano é composto por alma e corpo. O corpo está ligado ao mundo dos sentidos, pois não é eterno e imutável, ele se desintegra com o tempo, já a alma não é matéria, tem ligação com o mundo das ideias, é morada da razão, além do mais, é imortal, eterna e imutável. Ela já existia antes de habitar o corpo, existia lá no mundo das ideias. Quando uma alma passa a habitar um corpo ela se esquece das ideias perfeitas, então em contato com o mundo dos sentidos ela passa a lembrar-se de vagas ideias que estão dentro da alma. O corpo torna-se uma prisão para a alma, é como um castigo onde o corpo é seu cárcere, pois o mundo dos sentidos apresenta imperfeições. Nós costumamos aprisionar nossa alma ao mundo dos sentidos, não deixando ela buscar o verdadeiro conhecimento no mundo das ideias. É preciso raciocinar como filósofo para chegar ao verdadeiro, devemos libertar-nos das sombras que são meros reflexos da realidade (ideias) e utilizar a razão para obter o conhecimento seguro, nos desapegarmos do mundo dos sentidos, onde as opiniões são incertas e nada é eterno e imutável. Para Platão, o filósofo é o ser que tem mais possibilidade de chegar ao verdadeiro conhecimento, que segundo ele é o bem maior.

COMO DEVERIA SER O ESTADO IDEAL?

Platão imaginava um estado modelo, ele achava que o Estado deveria ser governado (dirigido) pelos filósofos e utilizava o corpo humano para fundamentar sua reflexão.
Para Platão o Estado deve ser organizado em três classes (filósofos, guerreiros e operários), assim como afirma a existência de três tipos de almas: a racional, a irracional e a apetitiva.
Segundo o seu raciocínio o corpo é composto de três partes (cérebro, peito e baixo-ventre), dentro de cada corpo existe uma alma que possui uma característica (o cérebro possui a RAZÃO, o peito possui a VONTADE e o baixo-ventre possui o DESEJO), consequentemente cada característica desenvolve uma virtude a razão aspira SABEDORIA, a vontade mostra CORAGEM e o desejo deve ser controlado exercendo a TEMPERANÇA. Portanto, na organização do Estado aqueles que possuem a virtude da sabedoria devem ser incumbidos de GOVERNAR, os que possuem a coragem devem ser GUERREIROS, responsáveis pela ordem do Estado e os que possuem a temperança responsabilizam-se pelo trabalho.
Além do mais, é necessário harmonização entre tudo isso, pois primeiramente devemos aprender a controlar nossos desejos, depois desenvolver a coragem e, por fim, usar a razão para atingir a sabedoria. Por isso o bom Estado deve ser dirigido pela razão, assim como a cabeça comanda o corpo.

O quadro abaixo esquematiza o pensamento elaborado por Platão:

ALMA
PARTE DO CORPO
VIRTUDE
CLASSE
FUNÇÃO DESENVOLVIDA NO ESTADO
racional
cérebro
sabedoria
filósofos
governar
irracional
peito
coragem
guerreiros
manter a ordem e defesa
apetitiva
baixo-ventre
temperança
operários
trabalhar

Entretanto, a virtude comum às três almas é a JUSTIÇA. A justiça deve ser uma virtude implantada em todos os homens. A harmonia entre essas classes leva á paz social que é decorrente da virtude comum a todos (a justiça). Cada um desenvolvendo a sua função para o bem do Estado.
Esse ideal de Estado de Platão lembra-nos o sistema de castas da Índia. A nosso ver essa idealização de Estado de Platão parece mais uma utopia social, pois em sua idealização seria necessário abolir a propriedade privada e a vida familiar. A família, por exemplo, deveria desaparecer para que as mulheres fossem comuns a todos os guardiões; as crianças seriam educadas pela cidade e a procriação deveria ser regulada de modo a preservar a eugenia; para evitar os laços familiares egoístas, nenhuma criança conheceria seu verdadeiro pai e nenhum pai seu verdadeiro filho; a execução dos trabalhos não levaria em conta distinção de sexo, mas tão somente a diversidade das aptidões naturais[1].
Para ele, a mulher tinha a mesma capacidade de governar que o homem, a razão é igual para ambos, por isso as mulheres deveriam receber a mesma formação do homem e libertar-se do serviço de casa e da guarda das crianças. Já quanto a educação infantil, essa era responsabilidade do Estado. Assim, cada individuo desenvolve suas aptidões de acordo com as virtudes da alma, portanto, a educação deve possuir atividades intelectuais e atividades físicas para que cada individuo consiga melhor desenvolver sua virtude.
Nesse sentido, o Estado regula tudo e o individuo fica subordinado ao interesse do Estado.
Apesar de suas várias decepções políticas, Platão descreve em seu diálogo “As leis” um segundo melhor tipo de Estado; o Estado legal. Nele a liberdade da mulher é restringida, porém a mulher precisa ser educada para não prejudicar o desenvolvimento desse Estado. Apesar de tudo, Platão tinha uma visão positiva da mulher.
E para finalizar, devemos ressaltar que o filósofo Aristóteles foi discípulo de Platão em sua Academia, sendo o primeiro a discutir sua teoria do mundo das ideias.

FONTES DE PESQUISA:

Mega estudante cidadão
O mundo de Sofia
Os pensadores: Platão








[1] Os pensadores: Platão. Pág. 23. 

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